Me Segue!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Além da Imaginação

-->

Além da Imaginação


Um dia me lembrei de você, passei a pensar em você e senti saudades. Aquele sentimento fez com que escapasse uma lágrima dos meus olhos, sem que eu pudesse contê-la. E eu quase perdi a minha própria razão. Aquela lembrança foi muito forte para mim e eu de repente entrei em outro mundo, totalmente diferente, voei para um lugar bem distante além de tudo. E vi Deus, com todo seu esplendor, então cheguei a Ele e pedi que me fizesse sol...

E fui sol! Brilhava no mais lindo azul do céu. Te procurei, e te achei. Queimei teu corpo, corei teu rosto, vivi apenas para você. E pude te tocar, não como eu queria, mas sim como pude. Então veio a noite, a terra girou e eu te perdi, não mais te vi, você sumiu, e eu chorei... Desesperada voltei a Deus e pedi que me fizesse lua...

E fui lua! Tornei a te procurar e quando te encontrei iluminei a tua noite e teu caminho, brilhei só para você. E pude te tocar, não como eu queria, mas sim como pude. E veio o dia, a terra novamente girou e eu te perdi, não mais te vi, você sumiu e eu chorei... Então novamente a Deus voltei, e pedi, quase implorei que me fizesse terra desta vez...

E fui terra! Você passou sobre mim, bebeu da minha água, se nutriu dos meus frutos. E pude te tocar, não como queria, mas como pude. Meus mares montanhas e vales o fizeram encantado, você me admirou, e veio o homem e destruiu tudo. Poluiu meus mares e vales, e eu te perdi, não mais te vi, você sumiu e eu chorei.... E sem pensar voltei então a Deus e pedi que me fizesse sangue desta vez...

E sendo sangue, corri por suas veias, te dei força e saúde para viver. E pude te tocar, não como queria mas como pude. E então chegou o dia em que você tremeu e perdeu todo o controle sobre mim. Passei como um foguete por seu coração, você me fez sumir de seu rosto e de suas mãos, você gelou, ficou pálido, corri em desespero dentro de você e descobri que você estava amando outro alguém, um alguém que não era eu. E em desespero voltei novamente a Deus e lhe pedi que me tornasse mulher, a mulher que habitava em seu coração, aquela que ele venera como deusa e acaricia feito criança...

E Deus respondeu: -Não!
Eu não entendi e perguntei: -Por quê?
E Deus respondeu: - Você será mulher, mas não a que habita no coração dele, pois é a ela quem ele ama, e é ela quem há de ficar. Será mulher e terás um homem que muito irá lhe amar, mas aquele a quem você verdadeiramente ama jamais será seu. Você pediu além do que podia e agora este será o teu castigo. Para que se conforme lhe darei o poder de dominar as palavras, poderá compor e brincar com elas, mas jamais esquecerá quem você verdadeiramente ama. Agora vá e faça o que ordenei!

E eu o fiz!

Hoje vivo sob o sol, a lua e a terra, tenho sangue que corre em minhas veias e um homem que me ama muito, mas continuo pensando em você. Escrevo versos, componho poemas enfim, brinco com as palavras.
Uma lágrima escapou de meus olhos e não pude contê-la. Fui boba, muito boba, pois toquei em você várias vezes.... E nunca foi como eu queria... Sempre como pude...!

(Desconheço o Autor)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cerimonial do Amor

Se não houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer é não o declarar. Poderá desenvolver-se em ti, num ambiente de silêncio. Esse amor proporciona-te então uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saíres, encontrares, perderes. Porque tu és aquele que tem de viver. E não há vida se nenhum deus te criou linhas de força.
Se o teu amor não é recebido, se ele se transforma em súplica vã como recompensa da tua fidelidade, se não tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um médico para ele te curar. É bom não confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede é belo, mas aquele que suplica é amor de criado.Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrável parede de um mosteiro ou do exílio, agradece a Deus que ela por hipótese retribua o teu amor, embora na aparência se mostre surda e cega. Há uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu não possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longínqua, embora morra.
Se eu construir almas grandes e escolher a mais perfeita para a rodear de silêncio, ficarás com a impressão de que ninguém recebe nada com isso. E, no entanto, ela enobrece todo o meu império. Quem quer que passa ao longe, prosterna-se. E nascem os sinais e os milagres.
Não importa que o amor que alguém nutre por ti seja um amor inútil. Desde que tu lhe correspondas, caminharás na luz. Grande é a oração à qual só responde o silêncio; basta que o deus exista.
Se o teu amor é aceite e há braços que se abrem para ti, então pede a Deus que salve esse amor de apodrecer. Eu temo pelos corações cumulados.

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Amor x Posse

“Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos.
Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer.
O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer.
Por eu amar a Deus, meto-me a pé pela estrada fora, coxeando penosamente para o levar aos outros homens.
E não reduzo o meu Deus à escravatura.
E sou alimentado com o que ele dá a outros.
Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado.
O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.”


Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Não se Reconquista o Amor com Argumentos

Não te esqueças de que a tua frase é um acto. Se desejas levar-me a agir, não pegues em argumentos. Julgas que me deixarei determinar por argumentos? Não me seria difícil opor, aos teus, melhores argumentos.
Já viste a mulher repudiada reconquistar-te através de um processo em que ela prova que tem razão? O processo irrita. Ela nem sequer será capaz de te recuperar mostrando-te tal como tu a amavas, porque essa já tu a não amas. Olha aquela infeliz que, nas vésperas do divórcio, teve a ideia de cantar a mesma canção triste que cantava quando noiva. Essa canção triste ainda tornou o homem mais furioso.
Talvez ela o recuperasse se o conseguisse despertar tal como ele era quando a amava. Mas para isso precisaria de um génio criador, porque teria de carregar o homem de qualquer coisa, da mesma maneira que eu o carrego de uma inclinação para o mar que fará dele construtor de navios. Só assim cresceria essa árvore que depois se iria diversificando. E ele havia de pedir de novo a canção triste.
Para fundar o amor por mim, faço nascer em ti alguém que é para mim. Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim. Não te farei censuras: elas irritar-te-iam justamente. Não te direi as razões que tu tens para amar-me, porque não as tens. A razão de amar é o amor. Também não me mostrarei mais, tal como tu me desejavas. Porque tu já não desejas esse. Se não, amar-me-ias ainda. Mas educar-te-ei para mim. E, se sou forte, mostrar-te-ei uma paisagem que fará de ti meu amigo.

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Não Transformes o Teu Amigo em Escravo

A decepção não passa de baixeza. Se tu amaste um certo não sei quê no homem, que importa haver no mesmo homem outra coisa que te desagrada? Mas tu, não senhor; transformas logo a seguir em escravo quem amas ou quem te ama. Se ele não assume os encargos dessa escravidão, condena-lo.
O outro que fez? Tinha um amigo que lhe fazia presente do seu amor. Vai ele e transforma esse presente em dever. E a dádiva do amor tornou-se dever de beber a cicuta, tornou-se escravatura. O amigo não gostava da cicuta. O outro deu-se por desiludido, o que é ignóbil. Efectivamente, só pode haver decepção relativamente a um escravo que serviu mal.

Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela'

Sonhadores...